domingo, 27 de dezembro de 2009

Que professor somos nós?



Para começar devemos evitar generalizações. O Brasil é muito grande e tem diferenças locais e regionais que exigem qualificações diferentes. De que escolas estamos falando? Escolas da periferia das grandes cidades ou do centro de uma pequena de cidade do interior de algum estado qualquer ou do centro de uma cidade grande? Isto exige tempo disponível para estudar outros assuntos fora da disciplina que o professor ensina e certamente recursos econômicos para financiar estes estudos Muitos alunos aparecem doentes e reclamam na sala de aula de dor de barriga, dor de garganta e muitas vezes com febre ou tossiam sem parar. Apresentam dislexia, apresentam problemas de aprendizagem devido ao precário desenvolvimento de suas habilidades motoras, de sua capacidade de discriminar, selecionar, classificar e de raciocinar. Outros chegam à escola com tanta fome que mal conseguem prestar atenção à aula ou ainda apresentam sinais de terem sidos violentados. O professor sente falta de noções de direito, de noções de saúde pública, de noções de pediatria, de psicologia infantil e de adolescentes e de adultos, de pedagogia, de arte, de teatro e de música. Sente falta de noções de técnicas de relaxamento, de técnicas de dinâmicas de classe de técnicas de apresentação em público. Como manter uma classe de 45 alunos estudando quando eles chegam a escola contando os tiroteios da noite e o assassinato de alguém na rua onde moram? Como ensinar noções de comportamento e respeito quando eles são violentados em todos os seus direitos? Como ensinar MMC e MDC a quem tem fome, a quem acabou de ver sua mãe ser espancada, a quem vê seu pai ou sua mãe chegar bêbado toda noite e criar todo tipo de problemas na vizinhança?

Que professor somos nós? Somos mágicos, e fazedores de milagres para transformar uma realidade catastrófica em algo aceitável socialmente, capaz de permitir uma existência saudável de pessoas felizes. Um professor sozinho faz pouco. Mesmo assim, a maioria faz muito mais do que seria possível, através de esforços sobre humanos, de dedicação, de muitas horas extras de trabalho e preocupação. Este pouco que cada professor faz, nas condições precárias em que muitas vezes trabalha, vem formando as pessoas que vem construindo este país. Um país cheio de sonhos, de grande potencial, de pessoas muito criativas, muito talentosas, e muitas vezes muito inteligentes.

Um salário mínimo decente, mais empregos, melhores condições de trabalho, mais tempo pago para formação do professores e profissionais em geral, boas bibliotecas, e boa música no ar fariam uma enorme diferença.

Ainda vamos dar aulas com micros online para cada aluno. O professor apresenta seu conteúdo em PowerPoint e os alunos acompanham a aula.. e o Twitter, o e-mail e as notícias.

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