Para algumas crianças dormir nem
sempre é uma atividade rápida e sim um verdadeiro ritual. Muitas vezes os pais
precisam fazer malabarismos para conseguir que seus pequeninos possam ter uma
boa noite de descanso.
|
Maria Eduarda
|
O
sono é essencial para as nossas vidas. Em média, o sono ocorre uma vez a cada
período de 24 horas e, na vida humana, o tempo é inversamente proporcional, já
que à medida que envelhecemos tendemos a dormir menos. Bebês podem chegar a
dormir 18 horas por dia enquanto a média de um idoso é entre 5 a 7 horas de
sono diário. Além disso, enquanto nossa consciência descansa, a incrível máquina
do corpo humano trabalha na liberação de substancias em nosso corpo que nos
permite uma verdadeira reorganização.
Aos cincos anos
de idade uma criança dorme, em média, 11 horas por noite e a frequência das
sonecas durante o dia tende a diminuir, até porque nessa fase a criança já
possui forte influência social. E como bem citou Vygostsky em seus estudos, a
sociedade é fator determinante em nossas vidas. O nosso corpo tende a se moldar
em relação ao que a sociedade exige. Basta lembrar que crianças com 5 anos de
idade já estão inseridas no contexto educacional e, aos poucos, o horário que
ela poderia tirar uma breve soneca é substituído por novas atividades.
Em muitas
culturas ocorre uma variância em relação ao horário de dormir. Por exemplo, na
comunidade Guisi no Quênia as crianças não possuem um horário fixo para dormir
e elas têm permissão de participarem das atividades dos pais até que seu corpo
sinta a necessidade desse repouso, que nomeamos como sono. Já nos povos Hare
canadense não permitem que as crianças de três anos tenham um momento para a
soneca, porém são postas para dormir logo após o jantar (Broude, 1995). A nossa
sociedade influi até mesmo na nossa rotina orgânica, já que o nosso sono, ou
melhor, nosso relógio biológico tende a se adequar às exigências e permissões
do meio em qual estamos inseridos.
O horário de ir
para a cama para algumas crianças pode culminar em um comportamento de
ansiedade, até porque, como citou Piaget em seus estudos, a formação da
inteligência humana é um processo, ou seja, passa por estágios e cada uma de
nossas habilidades cognitivas segue uma linha cronológica para se
maturar.
O pensamento de
uma criança de 2 anos de idade é diferente de uma criança com 6 anos de idade,
já que ambas estão em estágios diferentes. Dependendo da idade, no pensamento
dela o fato de não estar ao lado de um dos progenitores (pais), ou o fato de
seus progenitores estarem afastados de seu campo de visão passa a sensação de
que esses progenitores simplesmente sumiram e que não voltarão mais a existir.
Porém, com o tempo, a criança estabelece uma relação de confiança.
Goldberg, em
seus estudos, nos demonstra que a relação de confiança é uma construção
contínua. A partir do momento que a criança entende que o fato de não estar
vendo os progenitores não significa que eles a abandonaram, ela começa a
tornar-se mais independente nas atividades e começa a dormir sozinha. Da mesma
forma, ficar na escola torna-se mais fácil tanto para criança quanto para os
pais. Diante dessa situação, devemos ter conhecimento que a criança, mesmo com
pouca idade, já possui inteligência e perspicácia. Por isso, criam verdadeiras
rotinas para evitar atividades que a afastem de seus progenitores ou pessoas
com as quais elas tenham afetividade.
Os pais devem
mostrar aos seus filhos que dormir pode ser algo divertido e também
fundamental. Criar uma rotina como, por exemplo, estipular um horário para ela
começar a se organizar para dormir até que venha a culminar no momento de sono
é ideal. Cada pai poderá adotar uma atividade especifica para esse momento.
Alguns preferem cantar uma música, ou ler uma breve estória infantil, enfim,
cada família irá se adequar de acordo com o que a criança gosta.
Outro fato
importante é permitir que a criança durma com o objeto com o qual sinta
afetividade, seja uma pelúcia, um pequeno paninho. Enfim, cada criança deposita
afetividade em um objeto específico e, se a criança demonstra vontade de dormir
com esse objeto, deve-se permitir, contanto que o mesmo não ofereça riscos de
sufocamento ou de machucar durante o sono. Isso ameniza a ansiedade do pequeno,
além de ser um atalho para o aumento da confiança, pois devido à afetividade
que sente pelo objeto ele desenvolverá uma sensação de segurança, aumentando o
conforto e a tranquilidade tanto dele quanto dos pais.
Dicas para criar uma
rotina de sono:
1- Permitir que
a criança brinque, faça suas atividades, enfim, gaste energia, até porque a
criança precisa disso para estabelecer relações maiores e fortificar sua
interação social. A própria ‘brincadeira’ contribui para o desempenho da
motricidade da criança e, além de ser um lazer, também é uma oportunidade de
estabelecer o conhecimento de si e do espaço no qual habita.
2- Cuidado com a
alimentação. Alguns alimentos são estimulantes e outros são inapropriados para
o consumo a noite, já que promovem uma digestão mais lenta.
3- Use a higiene
como aliada. Quando tomamos banho antes de dormir, a água funciona como um
regulador de temperatura, preparando o corpo para entrar em relaxamento. Dessa forma,
diminui a agitação e promove um momento de tranquilidade tanto físico quanto
mental. A temperatura da água deve ser a que agrada a criança.
4- Estabeleça um
diálogo, pois além de ser uma contribuição para a interação de seu filho, irá
contribuir para que ele se habitue. Por exemplo, use esse diálogo como ponto de
referência, pois com o tempo a criança perceberá que após esse diálogo é hora
de dormir.
5- Use a leitura
ou a canção de ninar como ‘amiga do soninho’. Busque contar uma estória que
seja calma, sem muitas aventuras e que tranquilizem a emoção dessa criança,
pois o momento que antecede o sono deve ser relaxante e essas atividades não
podem estimular a agitação da criança.
6-
Estabeleça um horário e não permita que a criança durma apenas quando
sentir vontade. Por exemplo, às vinte horas é hora de estar escovando os
dentes. Esse horário deve ser uma integração entre pai e filho, pois a criança
precisa da companhia dos pais, pois dessa forma, além de estabelecer laços
afetivos, também estabelecerá laços de confiança. Esse horário de dormir deve
ser ajustável a rotina da família.
7- Cuidado com a
iluminação. O quarto deve estar na penumbra, pois se estiver totalmente escuro
a criança pode se sentir insegura e se estiver totalmente iluminado prejudicará
o descanso que sucederá o momento do sono.
8- Use roupas
confortáveis. Deve-se ter atenção com a temperatura do ambiente para colocar
uma roupa que esteja de acordo com essa necessidade climática.
9- Estimule a
afetividade permitindo seu filho dormir com uma pelúcia, paninho ou algum
objeto que ele tenha apego.
10-
Permaneça perto de seu filho até que ele durma, pois isso ajuda na
relação de confiança e no desenvolvimento cognitivo. Crianças até os três ou
quatro anos de idade (não é uma regra, pois cada criança é única e possui um
desenvolvimento diferenciado), em sua mente, acreditam que o fato de não ver os
pais significa que eles ‘deixaram de existir’. Os pais devem fazer com que a
criança perceba que mesmo eles não estando próximo ao campo de visão dessa
criança, ainda assim eles a amam e que não vai abandoná-la.
11- Ame
seu filho, pois essa é a principal dica para um desenvolvimento pleno e
saudável em toda criança, independentemente da idade.